A improvisação acontece na magia do momento, surge de forma inesperada, como um vento que atravessa a janela e segue seu caminho. Esse diálogo com o magistral guitarrista Paulo Cigano revela a profunda alquimica que decorre da amizade e se traduz em "química", aquele substantivo inexato que utilizamos para descrever as interações profundas de cumplicidade que marcam determinadas culturas musicais, entre as quais, a música cigana. Esse improviso foi captado por minha companheira, Agata Christie, também presenciado por Williana Carine , durante as gravações de Paulo Cigano Y Los Gitanos no Studio Somar, no dia 22 de dezembro de 2023. Enquanto o técnico resolvia um problema, Paulo, que estava no aquário, começou a tocar uma bela progressão de acordes em ritmo de rumba e comecei a improvisar livremente pela sequência de sabor mouro. Teria sido apenas um desses momentos fugazes, em que a música acontece tal qual a aventura que se desenrola ao redor de um tema, tal qual Ornete Coleman teorizava sobre o processo improvisacional. E teria sumido no universo por onde somem os sons que nascem e morrem no instante em que são proferidos. No entanto, tendo sido registrado, este som de natureza fugaz e evanescente que nos escapa das mãos e de nossas memórias, se eterniza em nosso ritual mimético de apreensão da existência.
Infelizmente, Paulo não aparece no vídeo, mas, o que vale, nesse caso, não é a imagem e sim, o som.

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