CONHEÇA NOSSA HISTÓRIA (USINA SANTA HELENA) PROXIMO AO VAU AÇU
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 Published On May 16, 2023

USINA SANTA HELENA

Sair da zona rural de Calambau para procurar emprego em outros lugares na região, era comum aqui, principalmente nos meses de Junho, julho e agosto, época em que já havia terminada a colheita do milho, arroz e feijão, principalmente. Depois, só em setembro que começaria o preparo das terras para o novo plantio.

Naquele ano de 1950, foi o que aconteceu com um grupo de pessoas, mais ou menos umas dez, que foram trabalhar na usina Santa Helena em Vau-Açu, Ponte Nova. Neste grupo faziam parte o José Titino, os irmãos Raimundo e Francisco Correia, o Raimundo João (Deco Roberto), o José Carro, Antônio Crispim, Geraldo Lucas e outros.
O Geraldo Lucas, que só tinha 15 anos é que me contou como era a situação que enfrentavam.

Na primeira vez, em um sábado saíram do Quenta Sol às quatro horas da manhã. Cada um levava a sua trouxa com roupas, alimentos (arroz, feijão, rapadura, pó de café, fubá). Levavam também amarrada às costa uma esteira de taboa, que serviria de cama. Pelo meio dia chegaram à Guaraciaba, passando por Porto Firme e descendo o Rio Piranga. Em Guaraciaba arrancharam em uma casa abandonada que não tinha portas e pouco telhado. Ali esquentaram o feijão cozido que levavam, colocaram um pouco de farinha de milho e almoçaram. Após o almoço comeram um pedaço de rapadura. Resolveram ficar em Guaraciaba para na manhã do domingo, já descansados, seguirem viagem.

Assim fizeram. Chegaram a Vau-Açu na parte da tarde, quase anoitecendo. Lá chegando, procuraram o administrador da usina Santa Helena para serem admitidos. Foi mostrado para eles o local onde dormiriam. Era um galpão que não possuía camas, e sim umas tábuas onde estenderiam as esteiras que levaram, para nelas dormirem.

A comida seria feita por eles, em umas trempes de pedras ou então, quem preferisse, poderia compra-la de umas famílias que moravam nos arredores.

Na segunda-feira começou o batente. Às seis horas levantavam, tomavam um café requentado coado de véspera e iam para o canavial cortar a cana. Às dez horas iam almoçar, tinham meia hora para o almoço. Tomavam o café às catorze horas e trabalhavam até às seis. À noite era para um bate papo e tomar uma “branquinha” que levaram. E assim iam levando a vida, com muita saudade de casa.

Certa vez, para complementar a comida que era pouca, o Geraldo chupou muita cana, o que lhe deu um distúrbio intestinal violento. Tomou vários chás e nada de sarar. Foi ficando fraco e já não aguentava trabalhar. Foi então que o Zé Titino, seu companheiro do Quenta Sol, lhe disse: Amanhã vai uma turma de Porto Firme embora, você poderia ir com eles, porque ficar aqui sem trabalhar não vai dar certo. O Geraldo aceitou o conselho.

Na manhã seguinte, ele levantou cedo, uniu-se à turma de Porto Firme e seguiu viagem. Passaram por Guaraciaba e quando estavam na zona rural de Posses (entre Porto Firme Guaraciaba) a turma explicou ao Geraldo como ele deveria fazer para chegar a Porto Firme. Alguns o aconselharam a passar a noite com eles, pois devido ao seu estado de fraqueza não seria bom viajar sozinho. Ele agradeceu e seguiu viagem. Já era noite e o Geraldo passando próximo ao terreiro de uma casa perguntou ao dono se Porto Firme estava longe. Você errou a estrada, por aqui você está indo para Vinte Alqueires. Volta o nosso personagem a seguir o caminho orientado pelo informante. Já era quase meia-noite quando ele avistou Porto Firme. Ainda existia um bar aberto. Foi a sorte do Geraldo, pois já estava com muita sede e fome. Tomou água, comprou um pão velho e seguiu viagem. De Porto Firme foi para Barbosa, de lá para o Paredão, Santana, e quando o dia estava amanhecendo chegou a sua casa no Quenta Sol. Aí ele tomou um bom café. Lavou os pés e caiu na cama, pois já estava quase desmaiando de sono e cansaço. Na manhã seguinte tomou um bom prato de mingau de fubá, começou a tomar um chá preparado pela sua mãe e partiu para a sua recuperação.

O Geraldo, por volta de 1955 ainda voltou a Ponte Nova, com uma turma maior, dirigida pelo Sr. José do Carmo Correia. Nesta época a turma tinha um tratamento melhor por parte da usina, pois o Zé do Carmo era o seu porta voz e as suas reinvindicações eram aceitas pelos patrões.

O pessoal quando vinha de Ponte Nova, trazia dinheiro para pagar as contas no comércio de Calambau e aos fazendeiros que com eles plantavam e que forneciam aos seus familiares.

quando eles estavam em Ponte Nova. Este fornecimento geralmente era: fubá, feijão, rapadura, e algum dinheiro para as necessidades urgentes.

Este testemunho do Geraldo serve para nos mostrar o quanto era dura a vida na roça, quando não havia serviço para todos. A partir de 1956, uma boa parte da turma da região do Baía, Quenta Sol e Cachoeira do Jurumirim, era absolvida na Fazenda Baía, de meu pai José Quintão.

Nota: A Usina Santa Helena foi instalada em 1940.No século XIX e início do século XX, com as outras usinas existentes, Ponte Nova tornou-se o maior centro açucareiro de Minas Gerais ( Fonte Wikipédia)

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