Um disco é uma obra não total. Traz em si imagens de um momento, de um contexto. Um disco, aprendi, já vem dentro da gente quando se nasce pra isso. O tempo do disco é volátil, sensível. Ele quer sair quando é necessário ao corpo que ele habita. Faz febre de urgência, precisa existir pra fora.

Brasil, 2022. Quando esse disco começou a coçar dentro, era pandemia. Tanto medo novo reorganizando os móveis internos que fiquei imovel por um tempo. Tentei ouvir o que o disco me dizia. Às vezes dói.
São como contrações de treinamento?
Nesse momento sonho bastante que estou grávida. Mas assim como um filho no mundo requer responsabilidade e possibilidades financeiras de sustento, um disco precisa de seu próprio pré natal. Daí, o Brasil paralisado, a cultura desmontada, milhares de mortes por covid e viver de fazer arte.
O que nunca foi tranquilo, virou uma questão encruzilhada?
A sobrevida do corpo que habita o disco se faz mais urgente. Gestação diferente com possibilidade de pausa.
Foi preciso colocar mais água e sal?
Sim.
Mais sal.
Agora com mais calma nos corações, mais traumas e mais saberes, a obra começa a acordar de novo do coma induzido pelo mercado voraz que não lhe deu a chance de ser pelas vias do capital brutal.
Sem salário, com Sal dentro?
Salitre.
Salobro.
Salgado.
Sal demais faz mal, mas som que salga só tempera?
Então. Assim quis a obra se chamar Sal.

Anelis Assumpção Disco 4
SAL
Financiamento Coletivo: www.kickante.com/anelisassumpcaosal